quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Uma estação como lar



José Nunes Alves escolheu a casa da estação de comboios de Santa Cita, Tomar, para se abrigar durante três semanas, situação que se arrastou até a GNR ter tomado conhecimento do caso através de um cidadão anónimo que se solidarizou com o sem-abrigo.


Na manhã da passada segunda-feira, 1 de Outubro, só o zumbido das moscas dentro da casa da estação de comboios de Santa Cita, Tomar, quebrava o silêncio, quando ali entrámos. Mas lá dentro, tendo como companhia dois cães vadios, deitado em cima de um banco encontrámos um homem lúcido mas muito desanimado com a vida. “Isto não tem solução, só acaba quando me matar”, vaticinou José Nunes, de 57 anos, e que ali se encontrava desde o dia 12 de Setembro, ao frio e à fome.
Enrolado a um casaco, queixou-se de dores de estômago, fruto talvez da fome que passou até ter tido a ajuda de um cidadão anónimo que por ali passou e, mais tarde, lhe levou comida e roupas. Foi também este homem que alertou as autoridades para este caso de miséria social. “Andei muitos dias sem comer... depois para matar a fome comia figos ou amoras silvestres”, contou José Alves, adiantando que veio ali parar um pouco por acaso.
“Chateei-me a sério com o meu irmão e tive que sair da casa que era dele. Meti-me no comboio, para aqui e para ali, fui até ao Entroncamento e, à volta, parei aqui. Achei que não fazia mal a ninguém dado isto não ter aqui ninguém a tomar conta”´, contou-nos.
José Nunes trabalhava na indústria dos funerais até se ter reformado por invalidez. Depois dedicava-se a fazer pequenos “biscates”, até que uma depressão nervosa o levou a consumir álcool. “Eu já não ando bem da cabeça de há dez anos para cá mas nos últimos meses estou pior... Há quatro meses para cá pensei em matar-me e agora vou andando até o fazer”, referiu. “Agora não tenho bebido mas se bebesse talvez estivesse mais feliz”, apontou.
Solteiro e sem filhos, José Alves, tem como única família um irmão que mora emTomar. Segundo apurámos é o filho mais novo de Francisco Alves, um dos grandes construtores de Tomar com sucesso (já falecido) e diz que lhe deixaram cerca de 150 mil euros de herança, bem como outros bens mas, como andou a gastar algum dinheiro que recebeu de herança “mal gasto”, fez a doação dos restantes bens aos familiares, ficando em troca a viver numa casa ao lado da deles. Mas segundo contou os conflitos físicos e verbais com o irmão sempre foram muito grandes, tendo saído por vontade própria dali. O único problema é que não tinha para onde ir e o dinheiro era escasso.

GNR chamada a intervir

As dores de estômago horríveis levaram-no um destes dias até ao hospital de Tomar e lá foi visto por três médicos. Curiosamente ninguém se terá apercebido que se tratava de um sem-abrigo, dado que, nesse mesmo dia, regressou ao seu lar improvisado.
José Alves recebe uma reforma de 46 contos na moeda antiga, dinheiro insuficiente para pensar em alugar um quarto. “Isto vai dar mal resultado e só acaba quando me matar”, aponta novamente.
Á hora que deixamos José Alves, a GNR local estava a deslocar-se para o local, tendo chamou uma ambulância para transportar para o hospital de Tomar, afim deste receber tratamento para as suas dores de estômago. Ainda neste dia, a GNR iria entrar em contacto com familiares de José Alves afim destes o acolherem de novo. Um caso que vamos continuar a acompanhar porque afinal se trata de um ser humano que precisa de que lhe estendam a mão antes que desista da vida.

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