sexta-feira, 30 de outubro de 2009

“Quero pilotar helicópteros até que me o deixem fazer”


Natural de Tomar, Mónica Martins, 32 anos, é a única mulher piloto da Marinha Portuguesa, onde se encontra há 15 anos, tendo realizado uma especialização em helicópteros em 2004. Solteira e sem filhos sabe que a sua actividade não é das mais fáceis de conciliar com a vida pessoal. Actualmente ocupa o posto de Tenente e integra os destacamentos da esquadrilha de helicópteros, a postos para qualquer situação de emergência.

Como é que surgiu o mundo dos aviões na sua vida?

Eu não tinha a mínima ideia do que ia fazer a nível profissional. No 12.º ano chegaram à escola uns panfletos para concorrer à Força Aérea e resolvi concorrer com outra amiga. Fizemos os testes em Abril mas chumbei para pilotagem nos testes psicométricos. Regressámos à escola e pouco tempo depois outro colega convidou-nos a concorrer para a Marinha. Não fazia a mínima ideia ao que ia. Acabei por ser a única a conseguir entrar.

E que provas teve que fazer?

A média de entrada calcula-se da mesma forma que para a universidade. Mas tive que realizar provas médicas, testes psicomotores, psicológicos e testes físicos. Na Marinha os testes são feitos na Escola Naval acabei por fazer logo muitas amizades. Gostei do que vi. Os meus pais matricularam-me, entretanto, no curso de Matemática, via ensino, em Coimbra, por precaução. Penso que um dos grandes motivos que me levou a optar pela Marinha foi também porque os testes para a Força Aérea são feitos no Hospital do Lumiar. Escolhi a classe Marinha, que é a mais geral onde passei cinco anos (quatro teóricos na escola e um de estágio). Completei um ano como guarda marinha e três como segundo tenente, já a navegar. Entretanto abriu o concurso e entrei para Piloto Naval. O curso de pilotagem foi dividido entre Ota, Beja e Montijo. Concluí-o em Outubro de 2006.

E como é que foi voar pela primeira vez?

Já tinha o bichinho de voar até porque tinha concorrido à Força Aérea mas nunca tinha andado de avião. Começamos a parte de voo na Base de Beja, que pertence à Força Aérea. Depois de nos mostrarem o funcionamento do avião, dão-nos logo o comando para as mãos. Foi emocionante. É difícil mas nada que não se aprenda.

Como é que é ser a única mulher piloto naval na Marinha Portuguesa?

Ninguém estranha o facto de ser uma mulher a ocupar aquele cargo, pois já me encontro na Marinha há 15 anos. Já conhecia os meus camaradas porque andei muitas vezes nos navios, onde exercia outras funções. Penso que me tratam de igual para igual. Não há diferenças.


Qual foi a sua experiência mais marcante num helicóptero naval?


Foi durante uma missão que visava o combate à emigração ilegal e tráfico de ser humanos nas zonas do Senegal e Guiné e Estreito de Gibraltar e combate à pirataria na zona da Somália. Quando estávamos a passar no Mar Vermelho, junto ao Iémen, houve necessidade de prestar auxílio a militares que estavam numa ilha que entrou em erupção. Foi uma situação completamente inesperada mas que acabou por correr bem, embora dois militares nunca tivessem aparecido.

Até que idade é que pode andar nos helicópteros?

Não há uma idade imposta mas a certa altura damos a vez a outras pessoas e somos destacados para outras funções. É natural que isto aconteça no decorrer normal de uma carreira nas Forças Armadas.

Passa muito tempo longe da família. Nessas alturas sente o peso da profissão?

Confesso que já perdi alguns casamentos e festas de família por me encontrar fora do país. Não é fácil conciliar esta família com a profissão mas se estivesse mal, mudava-me. Estou bem onde estou. Esta foi a minha opção de vida, nada me foi imposto. Antes de tomar esta decisão informei-me e já sabia que o meu futuro ia ser assim.

A Marinha recebe formação específica quando tem que colaborar com outras Forças Armadas em missões internacionais?

Existem navios específicos para essas missões internacionais que são as fragatas. Quem vai para essas fragatas tem formação específica mas esta incide mais na operação do navio que tem que estar sempre pronto para integrar uma missão nacional ou internacional. Baseamo-nos sempre na doutrina NATO que inclui procedimentos comuns que existem para todos os países da NATO.

Tem capacidade de abrir fogo no helicóptero do navio?

Sim. Temos dois tipos de armas. Torpedos, que são armas que usamos contra submarinos e metralhadoras para combate à droga e pirataria mas que são utilizadas sempre com o primeiro objectivo de fazer parar estas embarcações.

As missões de salvamento que fazem são só no ar mas também em terra?

Há o salvamento marítimo que, em águas nacionais, é feito só com os nossos navios e os meios aéreos da Força Aérea. Depois existem as catástrofes naturais, como as cheias ou fogos onde os três ramos das forças armadas são chamados. Por exemplo, quando numa situação de cheias se vêem os botes é a Marinha a actuar. Mas, normalmente, as operações em terra são com os Fuzileiros, a não ser que a população em risco se localize junto ao mar. Treinamos exaustivamente as operações de “não combatentes” com o objectivo de prestar ajuda humanitária a civis. Nestes casos, o navio tem sempre capacidade de disponibilizar parte da guarnição e material que tem a bordo e prestar auxílio à povoação costeira.


Tem contactos esporádicos com outros pilotos da Força Aérea?


Todos os dias.


Nota-se alguma rivalidade por pertencerem a diferentes ramos das forças armadas?


Não, pelo contrário. Nós somos formados na Força Aérea. A esquadrilha de helicópteros da Marinha está dentro na base aérea do Montijo. Somos camaradas. A relação entre Marinha e Força Aérea é muito boa.

Já encontrou alguma explicação para que mais senhoras não estejam interessadas em ser piloto de helicópteros?

Simplesmente porque não há camaradas ainda que possam concorrer. Fui a primeira a ter hipótese de entrar para o curso de pilotagem em 2004. Dai para cá ainda não houve nenhuma mulher que estivesse nas condições de concorrer. São muito poucas as alturas em que se pode concorrer para ser piloto. Das únicas mulheres que conheço que podiam concorrer, uma escolheu Hidrografia e duas Artilharia. Também não há necessidade de abrir concurso para pilotos todos os anos. Quando concorri havia 20 candidatos e eu era a única mulher. Tive a sorte de, entre os 8 que foram apurados, de ser a mais graduada.

entrevista integral publicada na edição de 29 de Outubro

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O dia em que o burro Jerico foi um herói em Abrantes

Nota: Esta foi talvez uma das reportagens mais insólitas que já me calhou fazer.



Empresário leva animal em protesto para a frente da Câmara Municipal. Asno só não entrou dentro do edifício porque se assustou com as portas envidraçadas.

“Jerico foste um herói”. Foi deste modo que o empresário Jorge Dias terminou talvez o protesto mais original a que Abrantes alguma terá assistido nos últimos tempos. O sol tinha raiado há pouco tempo na manhã da passada sexta-feira, 21 de Agosto, quando o empresário se levantou e tratou dos animais na sua quinta localizada em Chainça, a cerca de seis quilómetros da cidade. Mas houve um deles que teve direito a um pequeno-almoço reforçado: O burro Jerico. Uma milha de farinha e muita palha. Às oito da manhã, fez-se ao caminho com destino traçado pela inconformidade do seu dono: um protesto em frente à Câmara Municipal de Abrantes.
Jorge Dias, homem com uns portentosos cem quilos, optou por não sobrecarregar o animal que considera de família e fez toda a jornada a pé. Não que ele não aguentasse mas o problema era que se teria que descansar pelo caminho. O burro, também ele bem constituído, apresenta um pelo lustroso, hoje libertado do peso da albarda. Fez a alegria de muitas crianças na primeira festa que se realizou no Parque de São Lourenço, em Abrantes e chamou a atenção do empresário que, de imediato, o comprou a um agricultor da região. Já passaram dez anos e Jerico continua a ser um dos animais preferidos, o único burro entre os mais de trezentos animais (entre cães, patos e ovelhas) que Jorge Dias diz possuir.
Perto das nove horas da manhã, dono e burro entram no perímetro urbano. O animal sacia a sede na Praça Raimundo Soares, em frente aos Paços do Concelho. A presença do animal em pleno centro histórico agita as atenções. ”Quanto custa este animal?”, alguém pergunta. Jorge Dias responde que não está à venda. É de estimação. Insistem em saber. “Talvez cem contos mas nunca o vendiam”, assegura. Avança-se até à Praça Barão Batalha, por entre pessoas nas esplanadas e lojas de comércio, algumas incrédulas ao que assistem. As crianças deliram com o animal. Os mais velhos recordam tempos idos em que o mercado trazia muitos vendedores montados em burros até à cidade.

A jornada vai a meio e Jerico lembra-se que está na altura de adornar com as suas fezes as ruas empedradas da cidade. A primeira descarga intestinal sai rápida, enquanto o dono o prende a mais uma fonte. “Não faz mal, os serviços (de limpeza) da câmara existem para alguma coisa”, aponta Jorge Dias sem uma pinga de preocupação. A comerciante da loja de roupas em frente é que não acha muita piada. “Isso agora vai ficar aí o dia todo”, reclama. O burro bebe mais água da fonte e contorna a praça, guiado pelo dono, agora por um caminho ainda mais estreito.

Mais à frente, o protesto ganho relevo quando encontra Isilda Jana, vereadora da cultura na autarquia. O insólito da situação quase que a deixa sem reacção. A voz de Jorge Dias eleva-se. Acusa a câmara de, entre outras coisas, boicotar os seus projectos empresariais. A plateia de improviso acaba por sair apressada. Jorge Dias não quer esperar mais e segue firme em direcção aos serviços da Divisão de Urbanismo da Câmara, a poucos metros. As pessoas sorriem à passagem do animal. Fazem comentários diversos. “É para mostrar que há por aqui gente mais burra que este burro”, justifica a quem pergunta.

Algumas dezenas de pessoas, a maioria homens reformados, concentram-se na Praça para assistirem de camarote à cena. Jorge Dias estava decidido a entrar com o animal dentro do edifício mas, desta vez, Jerico não colabora e emperra. O dono insiste. Jerico, burro teimoso. Reforça a corda mas mesmo assim o animal mantém a sua posição. As portas envidraçadas assustam-no. Acaba por atar o animal ao ferrolho de uma das três entradas possíveis. Lá dentro, os funcionários franzem o sobrolho ao que se passa mas continuam a fazer o seu trabalho como se nada fosse. Só a chefe dos serviços vem saber o que se passa e chama mais tarde a polícia que diz que nada pode fazer uma vez que o animal não está a perturbar o normal funcionamento dos serviços.
Durante duas horas, Jerico permanece impávido e sereno, debaixo de um sol escaldante, enquanto o dono escreve quatro queixas no Livro de Reclamações. Uma delas prende-se com o impasse do negócio da venda de um terreno em Abrantes para instalar o complexo médico-social “Ofelia Clube” onde poderia vir a ganhar 2,5 milhões de euros.

Jerico zurra algumas vezes e o dono diz que é por sentir a sua falta. Muitas pessoas aproximam-se, tiram fotografias mas poucas ousam tocar no animal que, entretanto, decide fazer outra descarga intestinal mesmo à porta dos serviços. A sirene dos bombeiros ecoa o meio-dia quando termina o protesto. “Valeu a pena?”. Jorge Dias diz que sim, apesar de ninguém com responsabilidades no executivo camarário o ter vindo questionar sobre as razões do seu protesto, adequado a alguém que considera já nada ter a perder. Antes de dar meia volta e regressar à quinta dá umas palmadinhas na cabeça do burro. Para o próximo, promete trazer os seus sete cães.

Publicada na edição de 27 de Agosto de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Feira de Santa Iria contada pelos mais velhos




A feira de Santa Iria realiza-se em Tomar há mais de 300 anos e vem-se modificando de ano para ano. Fomos descobrir como era aqui há cinquenta anos.



“Já ouvi e vi, os palhaços passarem pelas ruas, distribuindo panfletos onde constam as suas principais atracções. As barracas de comes e bebes vão abrindo timidamente as portas, mostrando as mesas e bancos corridos, os pipos de vinho, os copos alinhados. As louceiras desembrulham cuidadosamente, as loiças, os bonecos, os santinhos, os belos penicos, decorados, com paisagens bucólicas, flores e até imagens piedosas”. É este o olhar que Maria Águeda Costa, 64 anos, doméstica, relança sobre a Feira de Santa Iria da sua meninice. Aquela que era iluminada “com uma luz fraquinha” e na qual eram penduradas nas bancas de roupa as samarras ribatejanas, com golas de raposa, e os safões, uma espécie de calças de pele, atacadas com cordões. Aquela em que os brinquedos de madeira, de lata, as bonecas de papelão ou celulóide, “enchiam de sonhos, as cabecinhas miúdas, de grandes olhos, arregalados pela cobiça, de tais tesouros”. Naquele tempo, “as mulheres, de grandes aventais, lenços, mais ou menos garridos na cabeça e xailes de lã (na Santa Iria já faz frio), tomavam conta da mercadoria, enquanto falam, de um modo cantante, que eu ainda conservo”, aponta desiludida com as luzes psicadélicas e a música ao vivo e gravada que ecoa no largo da feira.


A feira de Santa Iria realiza-se em Tomar há mais de 300 anos e vem-se modificando-se de ano para ano. Actualmente divide-se entre a Várzea Grande, onde são instalados os divertimentos e a Praça da República, onde tem lugar a Feira das Passas. No recinto do mercado municipal são montadas as tasquinhas de comes e bebes onde o frango assado é rei. Mas nem sempre assim foi. Que o diga Vítor Antunes da Silva, 60 anos, um cantoneiro reformado, que defende que a feira antigamente “era mais divertida e melhor”. Lembra-se, sobretudo da sardinha assada, que se vendia nos terrenos localizados em frente da Rodoviária, junto à Várzea Grande. O frango assado era petisco ainda desconhecido e só viria posteriormente. “Naquele tempo as pessoas compravam as sardinhas e depois iam-nas assar nas fogueiras que por ali haviam. Cada vendedor tinha uma fogueira”, contou. A sardinhada era sempre degustada na companhia dos pais e do irmão no dia em que escolhiam ir ao circo que, à época, era “grátis às damas”. A acompanhar a nova água-pé e gasosa para os meninos. A mãe comprava um pão de quilo na Padaria Mesquita (onde hoje funciona a Farmácia Central) para ajudar a compor o petisco.


Também a célebre feira das Passas está diferente. Conta Maria Águeda Costa que o dia 19 de Outubro era, por excelência, o dia da feira das passas. Munidas de seiras de palha ou, cabazes de verga, numa época em que os sacos de plástico não existiam, as senhoras rumavam à feira para comprar os belos frutos secos que no feriado de Todos-os-Santos, a 1 de Novembro iriam distribuir pelos meninos que pediam “O pão por Deus”. Os frutos secos que restavam seriam para no Natal seguinte enfeitar a mesa da Consoada.


A memória mais remota que José Antunes, 87 anos, retém da Feira de Santa Iria é do célebre “Poço da Morte”, divertimento que o levava à feira todos os anos. Já tinha mais de 20 anos quando viu, pela primeira vez, as acrobacias de mota que tinham lugar dentro de um poço de madeira. “Era um espectáculo grandioso que deixava toda a gente de boca aberta”, recorda. José Antunes recorda as filas enormes que se faziam junto “à barraca redonda que parecia com um moinho antigo” e onde um motard fazia manobras impressionantes.” Nunca o vi falhar”, recorda. E teve pena de não ter ido ao certame em 2006, quando o poço da Morte regressou à Feira de Santa Iria após muitos anos de interregno.


Fui muito feliz nos carrinhos de choque”

Pedimos a um jovem tomarense que nos contasse qual a sua melhor recordação da feira de Santa Iria enquanto criança. Luís Ribeiro, 34 anos, comercial conta-nos como foi feliz a andar de carrinhos de choque:




“Uma das coisas que mais me alegrava enquanto miúdo era a época da Feira de Santa Iria. As castanhas assadas, o ambiente que se proporcionava e claro está, os carinhos de choque. Há alguns anos atrás era um frequentador assíduo das pistas de carrinhos de choque da Feira de Santa Iria, que era uma loucura para qualquer miúdo da minha idade. Na pista tentávamos aprender malabarismos técnicos ao volante naqueles carrinhos que para nós eram a maior atracção da feira, ao som da onda musical debitada pelos altifalantes no tecto da pista. O intuito de cativar as raparigas estava também presente nas nossas mentes. Lembro-me perfeitamente de alguns casos em que se tivesse umas fichas para andar, a probabilidade de receber um beijinho era bem real. Naquele tempo não me era muito fácil obter as tão desejadas fichas mas fazia alguns sacrifícios para as conseguir e um desses era trabalhar nas férias grandes para juntar algum dinheiro. Ao microfone ouvia o DJ gritar: “As meninas não pagam… mas também não andam!”. Enfim recordar estes momentos faz-nos sorrir de saudade, levando-nos a viver boas recordações. Posso afirmar que fui muito feliz nos “carrinhos de choque”.

Publicado na edição de O MIRANTE a 15 de Outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

O engenheiro civil que gosta de coleccionar postais de pontes



Joaquim Canteiro tem mais de mil postais de pontes portuguesas e estrangeiras. A sua colecção já correu mundo e ganhou vários troféus, tendo recebido uma medalha da Federação Portuguesa de Filatelia pelas boas classificações obtidas.

Nunca calculou nenhuma ponte e já pouca esperança tem de o vir a fazer. Joaquim Canteiro, 53 anos, é engenheiro civil e colecciona, entre outras coisas, postais de pontes. Actualmente conta mais de mil “postais máximos” na sua colecção. São postais máximos aqueles que têm um selo e uma imagem no postal com a mesma ilustração, tendo o carimbo que incidir nas duas partes. Cerca de 250 encontram-se na Exposição Luso-Brasileira Lubrapex, que decorre até 11 de Outubro na Arena de Évora. “Já viajaram mais do que eu”, conta a rir o coleccionador que já perdeu conta ao número de exposições internacionais onde, ao longo dos últimos 25 anos, os seus postais estiveram. Rio de Janeiro, Sevilha, Granada ou Pequim, são algumas das cidades para onde postais já foram enviados, através da Federação Portuguesa de Filatelia, que atribuiu a Joaquim Canteiro uma medalha de Serviços Inestimáveis pelas boas classificações alcançadas nas exposições internacionais.

Joaquim Canteiro vive numa zona calma de Abrantes mas trabalha na Câmara do Entroncamento há mais de vinte anos. Começou por juntar selos em criança, por influência de um tio. Os postais, que são uma das modalidades da filatelia, vieram mais tarde. A filatelia tem vários ramos ou temas e a Maximifilia (postais máximos) são um desses temas. “É engraçado porque posso comprar os selos nos correios, arranjo os postais e faço as minhas próprias maximizações”, explica com entusiasmo. Por este motivo, alguns dos postais máximos que tem são peças únicas uma vez que foram feitos por si. Na sua casa tem ainda em muitas, mas mesmo muitas, gavetas, postais antigos e outros de outras temáticos como Aves ou, por exemplo, Paris. Também colecciona pacotes de açúcar.

O fascínio pelas pontes deriva da sua formação profissional. “Para um engenheiro civil as pontes são a estrutura mais atractiva”, justifica. Já tinha concluído o curso de engenharia civil quando começou a coleccionar postais com pontes, não se recordando do primeiro postal que teve. A sua colecção é organizada pelas características estruturais da ponte, classificando-as em pontes de vigas, de arco, de suspensão ou de aquedutos. “Comecei por juntar postais de pontes de Portugal mas, através da internet, comecei a arranjar postais de pontes de todo o mundo”, explica mostrando um dos últimos postais que conseguiu comprar e que representa a ponte do Bósforo, em Istambul, Turquia. “É importante porque liga a Europa a Ásia e porque já lá passei”, aponta orgulhoso. Muitos dos postais são adquiridos por trocas e chegam de todos os pontos do mundo. O contacto com os outros coleccionadores é feito, na maioria das vezes por internet e visita, regularmente, os sites de leilões como, por exemplo, o E-Bay para adquirir novos selos.

Questionado sobre qual a sua ponte preferida, Joaquim Canteiro tem dificuldade em escolher qual será embora reconheça que a Ponte Vasco da Gama, em Lisboa, “é espectacular”. O engenheiro admite que já conhece quase todas as pontes de Portugal (à excepção de algumas no Norte) e interessa-se sempre por saber um pouco da história da sua construção e as suas principais características. Não tem por hábito fotografar e normalmente, antes de ir ao local consulta na internet a informação sobre a ponte que vai visitar. A colecção de Joaquim Canteiro tem para si um valor inestimável e preenche quase todos os seus tempos livres, de segunda a domingo. Um hobbie que conta com a compreensão da família habituada a vê-lo horas a fio de volta dos seus postais de pontes.

Publicado na edição de O MIRANTE a 8 de Outubro de 2009