terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mãe e filha de oito anos vivem numa barraca sem água nem luz no Tramagal


Uma mulher com 48 anos vive com a filha menor numa barraca de chapa de zinco sem água nem luz na Rua do Caldeirão, no Tramagal, Abrantes. O único rendimento mensal de Nazaré Nalha Duarte é relativo ao abono de família das duas filhas no valor de 84,90 euros que serve para pagar a mercearia e comprar uma garrafa de gás. A filha de 16 anos encontra-se neste momento a viver em casa do namorado, de 24 anos, devido às condições de extrema pobreza em que vivia.

Nazaré Duarte vive há oito anos numa barraca de chapa construída em terrenos herdados pela família e nunca soube o que era ter água ou luz. Divorciada e sem emprego vive com dificuldades agravadas pelo facto do ex-marido se encontrar sem paradeiro conhecido no estrangeiro e não cumprir com a pensão de alimentos no valor de 200 euros estipuladas em Tribunal, quando ficou com a custódia das filhas. Esporadicamente faz limpezas mas sobrevive muito à custa da ajuda dos vizinhos que lhe dão água e alguns alimentos.Mãe e filha tomam banho em casa de um primo.

A barraca onde habita com a Vanessa de 8 anos é iluminada à noite com um candeeiro a petróleo ou velas. Diz que inscreveu a menina no rancho folclórico para que ao menos a pequena possa desfrutar de alguns passeios já que não lhe pode proporcionar nada disso. A menina tem o computador “Magalhães” mas na maioria das vezes não o pode utilizar porque não tem como lhe carregar a bateria. Localizada junto a uns terrenos hortícolas, a barraca é muitas vezes invadida por cobras e outros bichos. “No outro dia ia para fazer a cama e vi uma cobra debaixo da colcha. Gritei e tiveram que me vir ajudar”, relata a O MIRANTE.

De acordo com a mulher, os técnicos dos serviços sociais da autarquia já visitaram o local e tiraram fotografias mas mais tarde ter-lhe-á sido dito “que tinha muita gente há sua frente”. Também a Comissão de Protecção de Menores se deslocou ao local há cerca de oito meses e ameaçou a habitante que lhe retirava a filha caso não arranjasse uma casa com outras condições de habitabilidade. O problema reside na falta de habitação social no Tramagal. “Não quero sair do Tramagal porque tenho a minha mãe e metade dos meus filhos. Aqui conheço toda a gente. Nunca sai daqui. Para Abrantes não vou porque lá não tenho confiança com ninguém”, diz.

A situação económica é de tal maneira grave que Nazaré Duarte não consegue ter dinheiro para tirar as fotocópias e tratar da documentação necessária para se candidatar ao subsídio de rendimento mínimo. Mostra os impressos que estão à espera de dias melhores. A tramagalense não recebe subsídio de emprego porque recusou uma ocupação em Tomar, arranjada através do Centro de Emprego de Abrantes. Ao nosso jornal disse que não aceitou o trabalho por ter problemas de saúde e outros decorrentes da falta de condições mormente de deslocação. “Se me arranjassem um emprego aqui aceitava logo”, garante.

Recentemente, um habitante da terra, Abílio Pombinho, decidiu ajudar esta família, dizendo-se chocado com as condições sub-humanas em que vivem. “Por minha insistência no Banco Alimentar Contra a Fome de Abrantes passou a constar o seu nome de forma a vir a receber um cabaz de alimentos”, aponta. Mas até o facto de não ser beneficiária de rendimento mínimo pode vir a ser um entrave nesta benesse. “Muitos dias a criança mais nova vai para a escola sem sequer tomar leite. A única refeição decente que faz é na escola”, aponta Abílio Pombinho para quem “casos desta natureza deviam ser imediatamente acompanhados”.

O presidente da Junta de Freguesia do Tramagal, Fernando Pires (PS) disse ao nosso jornal que o caso desta família já se encontra sinalizado pela Rede Social do Concelho de Abrantes. “É uma situação muito complicada porque a senhora não quer sair daqui e no Tramagal não temos habitação social. Existem algumas casas degradadas que podiam ser compradas e recuperadas pela autarquia com este fim mas esse processo só depende da câmara”, aponta o autarca.

Notícia integral publicada na edição de 2 Julho 2009