quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Os “peregrinos” da EN349-3



Quem por ali passa vê-os com frequência, a subir ou a descer, ao calor e ao frio. A maioria mora no Bairro Nossa Sra. dos Anjos ou nas Algarvias e, uma vez que não têm carro próprio, aventuram-se pela berma da estrada nacional 349-3, no meio de buracos, pó, ramos verdes a precisar de um desbaste e lixo. O ideal para estes “peregrinos da estrada” era mesmo que o “Tutomar” passasse por ali.


Muitos são os moradores nas proximidades de Tomar que, não dispondo de viatura própria se vêm obrigados a circular a pé em determinado percurso da EN 349-3 (que liga Tomar a Torres Novas), abaixo e acima, às vezes mais do que uma vez por dia. Esta estrada é também conhecida pelos populares com “ladeira dos marcos” dado ter uma curva considerada muito perigosa, contornada com marcos brancos e vermelhos. Muitas vezes, estes peões são idosos que se deslocam a pé ou de bicicleta, senhoras carregadas com sacos de compras ou que empurram a custo o carrinho de bebé.
Para além do piso em péssimo estado, cheio de pedras, buracos e lixo, os passeios vão estreitando e alargado conforme a vegetação, árvores e canas, o permita. A situação piora em dias de chuva, com a lama e com a água que resvala com os pneus, molhando tudo e todos. Todos os peões com quem falámos reclamaram uma intervenção nesta estrada – obra que seria da competência das Estradas de Portugal - no sentido de se proceder à melhoria das condições de segurança e de circulação para peões. Outro aspecto que realçaram tem a ver com o alargamento do circuito do “Tutomar”, autocarro de transporte público, que actualmente realiza apenas um circuito urbano.
Aos 77 anos, Ermelinda Ferreira, moradora no Telégrafo, faz mais de cinco quilómetros para cá e para lá, para se submeter a tratamento médico. Apesar de nunca ter tropeçado ou caído durante a sua caminhada, como já lhe aconteceu na Estrada da Encosta das Maias, a idosa reconhece que o caminho “não é fácil” de percorrer. “Venho aqui muito encostada à berma por causa dos carros”, disse-nos.
Emília Francisco, moradora nas Algarvias, vai quase diariamente para Tomar e, na maioria das vezes, volta carregada com um sacos das compras. “Tenho que ir a pé e vir a pé. Custa muito subir esta ladeira. Ainda hoje tive que chamar um táxi e paguei 3, 20 euros para me vir por a casa porque não me sentia com forças para vir a pé”. Esta moradora não entende porque é que o circuito dos transportes urbanos (Tutomar) não se alarga, pelo menos, até as Algarvias, povoação a cerca de 3,5 quilómetros de Tomar. “Isto são vinte minutos a andar bem, para cima e para baixo... Na minha opinião o Tutu devia vir até ao cruzamento do Pato Bravo… poupávamos muito dinheiro”, desabafou ao nosso jornal. Segundo esta transeunte o piso desta estrada nacional “é muito difícil” e obriga os peões a “ir na mão contrária”, o que representa um grande perigo dado que os carros passam ali a lata velocidade. “Deviam fazer passeios maiores para podermos andar à vontade. Muitas vezes, quando subimos acompanhados, até comentamos uns com os outros que o presidente da câmara é que devia subir esta ladeira para ver o que é que nos custos”, aponta.

Assédio, buzinadelas e afins

Á entrada de Tomar, junto à mata nacional, e depois de mais de dois quilómetros sempre a descer, encontrámos Maria Celeste Jesus e Maria Irene Cruz. Ao nosso jornal contaram-nos um episódio caricato que lhes tinha acabado de suceder. “Vínhamos as duas muito descontraídas e vimos um carro com os quatro piscas ligados. Pensamos que queriam uma informação mas, qual não é o nosso espanto, perguntaram-nos se queríamos dar um passeio os quatro”, referiram ainda com o dislate fresco na memória.
Estas duas tomarenses fazem muitas vezes o caminho da EN 349-3 a pé sendo este um percurso difícil, tal a quantidade de buracos que tem pela frente. “Temos que procurar o caminho melhor mas é difícil. Também deviam fazer obras nos passeios mas o ideal era haver um transporte público até ao Bairro (Nossa Sra. dos Anjos)”. Segundo as mesmas, “não vale a pena estar à o autocarro da rodoviária só por causa desta distância”.
Também os automobilistas que circulam nesta estrada se apercebem do perigo que os peões estão sujeitos. É o caso de José Freire. “Como condutor tenho visto de tudo… desde crianças andando de costas para o trânsito, a pessoas com carrinhos de bebé e idosos, em plena estrada”, refere. “Parece que se está à espera que, um dia destes, aconteça uma tragédia”, questiona indignado.

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