sexta-feira, 13 de julho de 2012

O professor de ginástica que tem um pavilhão com o seu nome Nascido no seio de uma família humilde, José Maia Marques
acalentava em criança o sonho de seguir Educação Física. Tinha 43 anos quando conseguiu o diploma e, a partir daí, o desporto não parou mais de crescer no seu concelho. José Maia Marques, 63 anos, surge-nos na sua forma autêntica: calças de fato de treino, t-shirt básica e de boné na cabeça. Homem alto e de porte atlético, foi professor de Educação Física até ao dia 1 de Abril de 2009, altura em que se reformou. Tem muitas saudades de dar aulas, “a sua grande paixão” e confessa que ainda vai até à Escola Secundária de Mação jogar badmiton com os alunos, modalidade que ajudou a implantar no âmbito do Desporto Escolar. Mas não foi a única. Dinamizou a implantação do atletismo na Ortiga, do futsal, do futebol de onze, BTT, natação e, quando se deu a viragem no século, ocupou-se dos desportos radicais. “Ensinei milhares de pessoas a nadar nas piscinas de Mação. Não se ganhava quase nada mas tinha o Verão ocupado e divertia-me”, conta. Foi ainda menino, entre os sete e os onze anos, que começou a jogar futebol com uma bola de trapos que pediu à mãe. Esta resistiu à ideia porque “ele ia estragar os sapatos” mas acabou por ceder. Quem não tem cão, caça com gato e, por isso, lembra-se que fazia corridas de bicicletas apenas com guiadores ou jogava hóquei em patins com paus retorcidos e com uma bola de matraquilhos roubada. Mais tarde, já em Alvega, ficava encantado com as aulas de ginástica que tinha semanalmente com um professor que se deslocava à escola de propósito para esse fim. “Tinha onze, doze anos quando defini a minha profissão futura: professor de ginástica. Até ao 7.º ano foi fácil estudar mas o resto….”, confessa.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

E quando um casal de deficientes se “atreve” a namorar?
“Quando duas pessoas se amam e querem viver juntas deviam ter direito à sua sexualidade. Mas não têm. Um deficiente é, para a sociedade, um ser assexuado. Este é o primeiro obstáculo e a família os primeiros oponentes”. As palavras são de Isabel Barata, que se deslocou a Abrantes para apresentar o livro “Unidos no Amor contra a indiferença”, que escreveu juntamente com o seu namorado, Manuel Matos, em 2009. O livro pretende ser um alerta contra a indiferença de uma sociedade que deixa os seus cidadãos com deficiência serem destítuidos do direito básico de constituirem família e serem felizes. A apresentação, que coincidia com um jogo da selecção portuguesa, vai ser repetida em breve. Isabel Barata, com uma incapacidade física de 84% e Manuel Matos, com 99,9% de dependência, namoraram três anos. Durante todo o tempo da relação lutaram “pelo direito ao afecto, à sexualidade, a uma vida inteira e normal”, encontrando obstáculos de todos os lados. O último dos quais foi o epílogo da própria relação: Manuel não chegou a ver o livro escrito a quatro mãos publicado uma vez que faleceu em Maio de 2009, alguns dias depois da editora ter acedido à chancela da obra. “Este livro é o nosso filho. A razão da minha existência”, refere Isabel Barata a O MIRANTE momentos antes da apresentação. O convite para estar em Abrantes partiu do amigo Eduardo Jorge, tetralégico que vive na Concavada e que se emocionou com o testemunho do casal, identificando-se com as suas angústias. Isabel Barata, economista e Manuel Matos, professor, conheceram-se por intermédio de um amigo comum e trocaram bastante correspondência antes de se encontrarem pela primeira vez. Foi ela que foi de Lisboa ao Porto, ao seu encontro, uma vez que era mais fácil deslocar-se. “O Manuel nunca acreditou que, quando eu o conhecesse, continuava a namorar com ele porque tem uma aparência que não é vulgar”, atesta Isabel, referindo que já o conhecia pelas palavras mas o sentimento falou mais alto. “Um amor de dentro para fora”, como descreve, e que foi oficializado perante as famílias com o primeiro beijo. De ambas as partes, a família não encarou bem o facto de duas pessoas com tantas limitações físicas gostarem uma da outra e quererem viver juntas. “Foi uma luta permanente. Há muitas limitações. Não há privacidade. O Manuel tinha 50 anos e eu tinha 38 mas se os pais não concordarem não há namoro para ninguém”, atesta. Manuel Matos, que nasceu com uma doença degenerativa e progressiva ao nível muscular, mexia apenas um polegar mas não era por isso que amava menos Isabel. “A minha mãe dizia-me: o que é que vai fazer ao Porto se o Manuel só olha para ti? Há muitas maneiras de amar. Só o olhar do Manuel me fazia me dava mais força”, disse. Para Eduardo Jorge, que ficou tetraplégico há 20 anos na sequência de um acidente de viação, os casais que são constituídos por pessoas portadoras de deficiência deviam ter direito a um cuidador específico, uma espécie de terapeuta sexual. “Nós precisamos de uma pessoa que nos ponha na cama, nos limpe os genitais, nos coloque um perservativo. Porque é que a Isa e o Manuel não podiam viver juntos, na casa deles, com um cuidador pago pelo Estado? Se nos lares, quando existem casais de velinhos, há espaço para que privem num quarto, porque é que um casal de deficientes não pode ser ajudado para poder desfrutar da sua sexualidade em pleno?”, interroga.