sábado, 19 de julho de 2008

O búlgaro que se apaixonou por Tomar e escreveu um livro sobre isso




Chama-se “Sonhar Portokalia” e é o primeiro romance de Gualdo Tomarson, pseudónimo de Lyubomir Cholakov, um jornalista búlgaro que passou por Tomar em 2002 e rendeu-se ao encanto da cidade dos Templários. A obra ainda não está traduzida.

Aos 52 anos é a quarta vez que está em Portugal. Lyubomir Cholakov elegeu Tomar como cenário de um livro romanceado baseado na sua própria vivência enquanto emigrante de leste. Foi ali que, em 2002, o carro onde se deslocava com outro compatriota ficou sem pinga de gasolina. Saiu do veículo, olhou em redor e apaixonou-se “pelo castelo brilhante com bandeiras a ondear e uma cidade antiga com as ruas iluminadas com candeeiros em ferro”. Sem norte, alguém lhe falou de um bar da cidade que era gerido por búlgaros e foi neles que procurou comida e dormida. Na Bulgária, situada no coração dos Balcãs, era um tradutor de livros sem emprego pelo que a emigração pareceu ser a sua única saída. Trabalhou nas vindimas durante um Verão inteiro mas o trabalho acabou e foi obrigado a regressar à pátria. O livro que apresenta seis anos mais tarde retrata a experiência do jornalista em Portugal, com uma passagem especial emTomar vai ser oferecido à autarquia para, apesar de estar escrito em búlgaro, ficar disponível para consulta na biblioteca municipal à espera de uma editora que tenha interesse em apostar na sua tradução. “Este livro representa Tomar através de um olhar de um imigrante. Tomar é muito importante e conhecido na Bulgária”, acentua o jornalista búlgaro, realçando que de todas as cidades portuguesas que conheceu esta foi, sem dúvida, a que mais lhe tocou no íntimo. Recorda que, na primeira vez que esteve em Tomar, a miséria era tanta que nem cinco euros tinha para entrar no castelo que tanto o fascinou. Recorda ainda o susto que a polícia lhe pregou quando o surpreendeu a pescar em pleno Rio Nabão para matar a fome. Desconhecia que tal prática era proibida.
Apaixonado por teatro chegou ao conhecimento de Lyubomir Cholakov a existência do “Fatias de Cá”. Deixou no bar dos amigos búlgaros um projecto que tinha para uma mostra teatral. Foi assim que Carlos Carvalheiro, encenador do Fatias de Cá, o contactou e resolveu visitá-lo onde mora, numa aldeia perto da capital búlgara.“Era um projecto muto engraçado que consistia em fazer teatro durante uma semana inteira de manhã À noite. Eu li aquilo e pensei “então não querem lá ver que há gajos mais doidos que eu?!!”, conta Carlos Carvalheiro. E teve que o conhecer. “Pedimos-lhe guarida durante um fim-de-semana para discutirmos o projecto e chego lá e entendo que isto era só uma ideia”, explica. É então que o grupo decide que seria interessante criar o Fatias de Cá – Bulgária. Lyubomir Cholakov não fala português mas já actuou na peça “Pegadas dos Dragões”, onde se mostram diferentes culturas.
“Estamos a pensar em desenvolver um projecto entre Portugal e a Bulgária, assunto que vai ser discutido em Agosto no nosso congresso onde vamos definir os nossos próximos sete anos de actividade”, anuncia Carlos Carvalheiro que deseja promover projectos de ligação com a Europa e com o norte de África. Para além da Bulgária, até ao momento foram criados o Fatias de Cá-França e o Fatias de Cá – Marrocos, contando o grupo com participações especiais de actores destas nacionalidades nas suas peças. “Esta noção de abertura a outros países para nós é vital. Não há desenvolvimento com bairrismos. O mundo é mesmo uma aldeia”, remata Carlos Carvalheiro.

Obra ainda sem tradução portuguesa

“Sonhar Portokalia” é um romance de 252 páginas escrito na língua-mãe do autor e ainda sem tradução portuguesa conta um episódio da grande afluência migratória da Europa de Leste para a Ocidental, depois da queda do comunismo, em 1989. Dois búlgaros “engodados pelos contos e lendas da vida feliz e serena do Ocidente” dirigem-se a Portugal, para se salvarem da miséria. Para eles Portugal, ou melhor Portokalia, é “o país das laranjas, da alegria eterna, da despreocupação e da vida fácil”. No meio de muitas aventuras chegam, certo dia, ao país e aí a realidade depara-se bem diferente das suas expectativas. No meio do desespero e do medo, a quatro mil quilómetros da sua pátria chegam a Tomar que é descrita pelo olhar de um observador externo que pela primeira vez, num país diferente do seu, encontra a sua “atmosfera mágica”.
Carlos Carvalheiro admite a encenação da obra “quando souber do que realmente trata” ou seja quando o mesmo for traduzido para português.

Nenhum comentário: