segunda-feira, 8 de junho de 2009

Antigo mecânico de Ourém restaura clássicos para a sua colecção particular




António Pereira, ex-imigrante em França, mora em Espite, Ourém e colecciona carros antigos, restaurando-os de raiz. Um hobbie que já ultrapassa as duas dezenas de viaturas e que lhe permite, todos os dias, sair com um clássico diferente para a rua.

Imigrou para França em 1959, trabalhando durante quarenta anos em oficinas de bate-chapas, perto de Paris, até se estabelecer por conta própria. Em jovem teve vários carros mas houve um modelo Ford Consul Classic 315 que o marcou. Mais tarde, viu numa revista de carros clássicos, um carro idêntico e resolveu comprá-lo. Depois de regatear o preço, acabou mesmo por ficar com o clássico. Meteu mãos à obra e recuperou o veículo de raiz, ficando como novo. Não era a primeira vez que António Pereira, actualmente com 65 anos, se metia em tais andanças pois já tinha recuperado carros antigos para o filho e para o genro. “Desde chaparia, à parte de mêcanica e acabamentos, faço a recuperação completa dos meus carros”, disse a O MIRANTE, acrescentando que antes de desmontar o veículo começa logo por fazer a lista das peças que precisa. As que não existem, uma vez que algumas viaturas que já recuperou remontam a 1923, não são obstáculo incontornável. “Umas faço-as, outras mando-a fazer ou vir do estrangeiro”, explica, acrescentando que já foi a Paris várias vezes, de propósito, à procura de peças. “Não fica um parafuso em cima do carro”, conta.

Numa divisão anexa à sua casa, no lugar de Espite, freguesia de Ourém, mostra a colecção que iniciou há 20 anos e que conta com 23 carros clássicos até ao momento, se bem que na forja já se encontra uma carrinha de 1927 para restaurar. As viaturas, que reluzem ao olhar, só vão para a estrada quando estão em condições. António Pereira anda, em praticamente, todos e por isso os clássicos encontram-se todos cobertos pelo seguro. Habitual frequentador de passeios de carros antigos da região, guarda em casa as memórias desses encontros, retratados em inúmeras fotografias, azulejos ou outras recordações. Ainda recentemente, recorda um passeio que aconteceu em Ourém e que culminou com a visita dos participantes à sua colecção. A esposa, Maria José, também o acompanha nessas ocasiões. “O que ele faz, faz bem”, atesta, habituada a ver o marido horas e horas de volta dos carros na oficina. “Nunca pensei em ter tantos carros assim seguidos mas, quando vou de férias a Paris, onde tenho família, vejo-os à venda e compro-os”, explica António Pereira, reconhecendo que este é um “hobbie dispendioso” e que só consegue manter devido a uma vida regrada noutros aspectos.

O antigo mecânico gosta de documentar fotograficamente todo o processo de recuperação para mostrar o antes e depois. “Os carros vêm num estado lamentável e só ficam valorizados depois de muitas horas de trabalho”, ressalva, explicando que primeiro que tudo começa por recuperar o motor do carro, passando posteriormente à parte mecânica, à carroçaria e, finalmente, aos acabamentos e pintura. Só os bancos e os estofos são montados por um profissional.
A estima que tem por cada um destes veículos é notória quando mexe neles e exemplifica como trabalham. Por isso tem dificuldade em dizer de qual gosta mais. “É como as mulheres, gosto delas todas”, dispara com uma sonora gargalhada.

Publicado na edição de 22 de Janeiro de 2009

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